O empresário paulista Paulo Emílio Lemos, que gastou apenas R$ 850 para arrematar a marca da falida Gurgel, um dos ícones da indústria automobilística nacional, está construindo uma fábrica num terreno do Distrito Industrial de Três Lagoas.
A área foi doada pela prefeitura local, que ainda lhe concedeu incentivos fiscais. Ali, serão produzidos alguns modelos que a Gurgel deixou de fabricar e triciclos motorizados. Também está em seus planos criar ali um museu da Gurgel. “O Brasil não pode esquecer essa jóia totalmente brasileira”, diz Lemos.
A disposição de investir nos setor começou no final de 2002, durante visita que Lemos fez à China, onde conheceu uma estranha picape de três rodas. O veículo é simples, barato e largamente usado nas regiões agrícolas chinesas.
Lemos obteve licença do fabricante e atualmente está montando o triciclo em Presidente Prudente (SP), onde vive. “Na ocasião do fechamento do negócio com os chineses, ficou decidido que eu iniciaria as importações por minha conta e risco”, diz. O próximo passo será nacionalizar o triciclo com a marca Gurgel e fabricá-lo em Três Lagoas, a partir do final de 2006.
Além dos triciclos, serão fabricadas novas versões dos modelos Carajás e Tocantins, lançados pela Gurgel no passado. Lemos também adquiriu da massa falida da empresa os moldes desses carros. A Tritec Motors, de Campo Largo (PR), fornecerá o motor 1.6, desenvolvido pela BMW alemã. Atualmente, Lemos está negociando o fornecimento de itens como os eixos dianteiro e traseiro, além do câmbio, com uma das maiores fábricas chinesas deste segmento , fornecedora da coreana Hyundai.
Segundo o empresário, serão investidos R$ 3 milhões na produção inicial do Carajás. Uma outra unidade, prevista também para 2006, deverá ser implantada na cidade de Presidente Venceslau, no interior paulista. Produzirá os triciclos utilitários, além de peças.
Lemos diz não acreditar, ainda, como conseguiu obter a marca Gurgel. Ele entrou no website do Instituto Nacional de Propriedade Industrial(INPI) e percebeu que o registro constava como extinto. “A funcionária de um escritório de marcas e patentes me disse que quem registrasse primeiro levava”, lembra. Lemos entrou, pagou R$ 850 de taxas e levou. Com a oposição, diga-se, dos herdeiros de João Augusto do Amaral Gurgel, o fundador da montadora, que tentam impedir na Justiça o relançamento da marca que leva o nome familiar.